Barão de Guaraciaba, único barão negro do Brasil
Por Paulo Victor - 29 August, 2021

Barão de Guaraciaba, único barão negro do Brasil

O protagonista dessa história se chamava Francisco Paulo de Almeida, mais conhecido como Barão de Guaraciaba.  Já ouviram falar neste homem? Conhecem sua história?   

 

 

 

Francisco nasceu em Lagoa Dourada, no interior de Minas Gerais, em 1826. A origem da sua família é pouco conhecida. Filho de um modesto comerciante local chamado Antônio José de Almeida. Ainda na adolescência ele começou a vida fabricando botões e abotoaduras em sua terra natal. Nos intervalos, tocava violino em enterros, onde recebia algumas moedas como pagamento e os tocos das velas que sobravam do funeral, que utilizava para estudar à noite. Por volta dos 15 anos, tornou-se tropeiro entre Minas e a Corte, no Rio de Janeiro.  Aos 16 anos, recebeu como parte da partilha de bens de sua mãe cerca de 257 mil réis. Cinco anos depois, por ocasião do falecimento da avó, foi concedido a ele 99 mil réis. Considerando que esses valores eram parte da divisão entre numerosos herdeiros, supomos que a família do barão Francisco tinha um bom nível econômico. 

Por essa época, Francisco trabalhava como tropeiro, viajando de Minas Gerais pela estrada geral que passava por Valença, Rio de Janeiro e ganhou dinheiro comprando e vendendo gado, conheceu muitos fazendeiros e negociantes nos caminhos das tropas e começou a comprar terras na região de Valença, para plantar café. 

 É importante destacar que Francisco nunca foi escravo e sua arvore genealógica é um mistério para os historiadores, pois não se sabe se a mãe dele foi uma escrava. Dessa forma Francisco nasceu livre e filho de homem branco em meio a escravidão que ainda ocorria no Brasil. Algo que com certeza lhe deu a oportunidade de conquistar muitas coisas que na época poucos negros conquistariam. 

Dono de grande cultura, ele escolheu uma jovem branca para se casar, de família tradicional valenciana, e se esmerou em dar aos onze filhos uma educação refinada. Sabe-se ainda que era um grande comerciante.  Depois de se casar com dona Brasília Eugênia de Almeida, se tornou sócio do seu sogro que também era fazendeiro e negociante no Rio de Janeiro. 

Neste ano comprou sua primeira fazenda no Arraial de São Sebastião do Rio Bonito. Começava sua ascensão como próspero cafeicultor no Vale do Paraíba fluminense. 

 Após a morte do sogro, assumiu todos os negócios e sua fortuna disparou: comprou sete fazendas de café espalhadas pelo Vale do Paraíba fluminense e interior de Minas. Apenas na fazenda Veneza, em Valença, possuía mais de 400 mil pés de café e cerca de 200 escravos. Estima-se em consideração que ele tinha outras áreas produtoras de café, o barão pode ter tido até mil escravos. 

Em poucos anos, o barão Francisco Paulo de Almeida comprou outras fazendas de café: Veneza, Santa Fé, Três Barras, Santa Clara e Piracema. Por último, em 1897, já na República, adquiriu a fazenda Pocinho, entre os municípios de Vassouras e Barra do Piraí. Depois da morte de sua esposa, Francisco Paulo, vendeu a fazenda três barras. 

 

 

Fazenda Veneza 

 

Fazenda Veneza 

 

 

 

 

Fazenda Três Barras.  https://monidestro.wixsite.com/baraodeguaraciaba/genealogia-guaraciaba  por Mônica de Souza Destro 

 

 

Fazenda do Pocinho.  https://monidestro.wixsite.com/baraodeguaraciaba/genealogia-guaraciaba  por Mônica de Souza Destro 

 

Suas fazendas estendiam-se pelo Vale do Paraíba fluminense somando um vasto território de 250 km2, centenas de escravos e uma fortuna de quase 700 mil contos de réis, patrimônio de um bilionário.  Só a fazenda Veneza, em Conservatória, possuía 413 mil pés de café. As sedes de suas fazendas eram belíssimas e ele vivia no extremo luxo. Na corte, possuía um espaçoso sobrado na Tijuca (rua Moura Brito). Em Petrópolis, cidade de veraneio da nobreza imperial brasileira, era proprietário do célebre Palácio Amarelo, no centro da cidade. Sua inteligência o levou a uma escalada de ascensão social, e tudo fez para ficar mais próximo da cidade imperial, quando em 1891, adquiriu o palacete da família Mayrink, localizada em frente ao Palácio Imperial de Petrópolis. O palacete foi adquirido, em 1894, pelo governo para servir de sede da Câmara Municipal.  

 

 

  Palácio Amarelo.  https://monidestro.wixsite.com/baraodeguaraciaba/genealogia-guaraciaba  por Mônica de Souza Destro 

 

O BARÃO DE GUARACIABA, Francisco Paulo de Almeida. Único negro a receber o título de barão no período do império do Brasil. Título agraciado em 16 de setembro de 1887 pela princesa Isabel, Francisco Paulo de Almeida foi agraciado pelo título nobiliárquico de Barão de Guaraciaba, poucos meses antes da libertação dos escravos. Segundo o decreto, assinado pela Princesa Isabel, regente do trono na ausência do imperador, o título foi concedido por “merecimento e dignidade” pela beneficência em favor da Santa Casa de Misericórdia de Valença, Rio de Janeiro, em que foi provedor nos anos 1882 e 1884. Foi o primeiro e único barão negro do império. Na hierarquia nobiliárquica, “barão” era o primeiro título de nobreza, seguido por visconde, conde, marquês e duque, sendo este último o de maior importância. Era uma prerrogativa de o monarca eleger quem ostentaria essas distinções. Não havia uma regra clara para a concessão, justificada, em geral, por “serviços prestados ao Estado. Guaraciaba foi também um dos mais interessantes e curiosos homens de nossa história.  

 

 

Foto do quadro do Barão de Guaraciaba na sala da Santa Casa de Misericórdia de Valença. 

 

 

Santa Casa de Misericórdia de Valença. 

 

Francisco Paulo de Almeida iniciou sua trajetória em uma época em que o fluxo de africanos escravizados foi mais vigoroso. A partir de 1850, com o fim do tráfico negreiro, a reposição da força de trabalho ocorreria por meio do tráfico interno. Se sabe que nessa época Francisco desfrutou da amizade da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Mas o título de barão só foi concedido ao final de sua vida. Como grande fazendeiro, homem de negócios e aristocrata Francisco certamente acompanhou todos os embates sobre questão da mão de obra: o fim definitivo do tráfico, a Lei de Terras, a introdução de mão de obra livre imigrante nas fazendas de café, a Lei do Ventre Livre, do Sexagenário e por fim a abolição. 

 

Homem talentoso para lidar com as finanças, o barão Francisco tinha investimentos diversificados.  Em 1870, dedicou-se ao negócio de importação e exportação, com escritório situado na antiga Rua de Bragança, 31, na Corte. Participou da construção da Estrada de Ferro de Santa Isabel do Rio Preto, cujos trilhos atravessavam sua fazenda Veneza e assistiu sua inauguração ao lado de D. Pedro II, em 1883. Aplicava em ações e foi sócio fundador do Banco Territorial de Minas Gerais e do Banco Crédito Real de Minas Gerais. A diversificação dos negócios evitou que Francisco perdesse sua fortuna com o declínio do café do Vale que levou à ruína os barões de café.  Curiosamente, não existe nenhuma documentação que revele o caráter abolicionista do Barão de Guaraciaba, ou mesmo que tenha tentado o trabalho livre em suas fazendas através de emigrantes europeus como fizeram outros fazendeiros, até mesmo o maior dos escravistas, Joaquim José de Souza Breves, entre outros, experiência esta que levou ao total fracasso, em todo o vale do Paraíba. 

 

Após a Proclamação da República, Guaraciaba começou a se desfazer dos seus bens, mas viveu uma vida bastante confortável até morrer, na casa de uma das filhas, no Rio de Janeiro, em 1901, aos 75 anos. 

  

Seus herdeiros, inclusive alguns ex-escravos agraciados pelo dono e que permaneceram com o patrão após a alforria, receberam dinheiro e propriedades, e se espalharam pelos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. 

  

"Ele foi um grande empreendedor que acabou banqueiro, homem de negócios, fazendeiro e senhor de escravidão. É preciso empenho e coragem dos historiadores para estudar esses símbolos bem-sucedidos de mestiçagem", diz Mary Del Priore, que resgata um pouco da história do Barão de Guaraciaba em seu livro Histórias da Gente Brasileira. 

 

 

Fontes de pesquisa:  

Turismo Vale do Café/ Cozinha, Literatura & Outras Artes 

Livro Histórias da Gente Brasileira - Mary Del Priore 

 

25 August, 2021

O caso da destruição das pinturas parietais da sede da Fazenda Rialto, Bananal SP

Este artigo trata dos murais artísticos oitocentistas da sede da Fazenda Rialto, em Bananal, destruídos em 1996, que constituíam um dos mais importantes conjuntos de pinturas ambientais de temática profana produzidos no Estado de São Paulo no período correspondente ao primeiro ciclo da cultura do café.

Ler mais
25 August, 2021

Conheça o Pintor Espanhol Villaronga, pintou várias fazendas pelo Brasil

José Maria Villaronga y Panella (1809-1894), pintor, restaurador de arte sacra, arquiteto e engenheiro, nascido em Barcelona-Espanha.

Ler mais
26 August, 2021

O maior torturador de escravos do Brasil

A história de hoje é sobre um homem rico, nasceu no século XVIII, chamado Garcia d´Ávila Pereira de Aragão, ele morou na casa da Torre, e foi um dos maiores torturadores de escravos, foi um homem muito cruel, e relatamos no blog algumas torturas praticadas na época e que estão relatados no livro inquisição & sociedade de Luiz Mott.

Ler mais