Fazenda Água Milagrosa

Resumo Histórico

FAZENDA ÁGUA MILAGROSA

Tabapuã - SP #fazenda

1900*

O engenheiro dinamarquês Charles Arthur Edwin Ortenblad, na segunda metade do século 19, imigrou para o Brasil, deixando na Dinamarca os pais e nove irmãos, que jamais voltaria a ver. Foi trabalhar na São Paulo Railways, estrada de ferro inglesa que deu origem à Fepasa. Entre os anos de 1.880 e 1.890, a sua função era fazer levantamentos topográficos para as futuras linhas da estrada de ferro que se expandia para a região norte do estado de São Paulo, até então praticamente desabitada e coberta de matas, sem qualquer atividade econômica. Neste período, casou-se com Izabel Margarida Lerro, imigrante como ele, mas italiana. Do casamento, nasceram dois filhos: Rodolpho (nascido em 1.899 e falecido em 1.995) e Alberto (nascido em 1.901 e falecido em 1.994). A família morava em Jaboticabal, a cidade com mais recursos na região. Mas o trabalho do Engenheiro Ortenblad, ou Dr. Arthur, como era conhecido, o levava a distâncias de até 250 km de Jaboticabal, o que naquela época representava mais de dez dias de viagem em lombo de burro e no meio de mata fechada. Por vezes ficava ele três meses longe da família, e sem qualquer contato com ela. Dr. Arthur resolveu então sair da empresa na qual trabalhava.Com as economias que havia feito, comprou uma gleba numa região que em suas andanças, o encantara especialmente pela topografia, pelas matas, pela qualidade de solo e pela água abundante, embora distante de qualquer rio.

Mudou-se com a esposa, D. Izabel, e com os dois filhos ainda pequenos, Alberto e Rodolpho, para esta gleba, que ficava no município de Rancharia, depois denominado Tabapuã. O termo gleba é correto, pois não era uma fazenda. Nada existia: nem casa, nem cerca, nem pasto e, muito menos gente. Em regime de mutirão com vizinhos, foram feitas construções essenciais, como casa de taipa para a família morar (centenária e ainda preservada), um pequeno curral e abertura de algumas áreas para se plantar o básico à sobrevivência da família, e à criação de pequenos animais. Desde muito jovens, ainda com 4 a 5 anos de idade, os irmãos Alberto e Rodolpho acordavam de madrugada, ainda noite escura, e iam tirar leite de vacas e debulhar milho à mão para tratar porcos e galinhas, não raro ao som de rugidos de onças e jaguatiricas, que sempre rondavam o pequeno curral. Todos da família trabalhavam pesado, já que, não existindo quase população alguma, não havia empregados a se contratar. E nenhuma das comodidades com as quais estamos acostumados, existiam: não havia luz elétrica, nem telefone, nem estradas, apenas trilhas. No fim do século 19 e início do século 20, esta região do norte de São Paulo, hoje uma das mais prósperas do país, era tão pobre e remota que sequer se usava dinheiro, pois não havia o que comprar. Todos os negócios eram feitos através de escambo (trocas), e o troco era dado em sal, botões e tecido de sarja.

Seguindo rígida disciplina européia, os irmãos Alberto e Rodolpho, como dito acima, acordavam de madrugada para trabalhar, e antes do almoço e do jantar trocavam suas roupas surradas por terno e gravata, e faziam suas refeições, solenemente, à luz de lampião de querosene. À tarde estudavam, tendo como professora a própria mãe, D. Izabel, que os alfabetizou. A vida ia seguindo morosamente, já que, sendo proibido o plantio de café pelo governo, devido à pressão dos barões do café do Vale do Paraíba, a região norte do estado de São Paulo não apresentava atrativos a investimentos, nem atraia migração. Na primeira década do século 20 finalmente foi liberado o plantio de café na região, havendo grande valorização de terras. Dr. Arthur que, ao longo dos anos havia adquirido outras glebas na região, vendeu-as para conseguir dinheiro para investir no plantio do café, construção de casas para "colonos", tulhas para guarda de café, terreiro para secagem de café, almoxarifado e outras benfeitorias. Deixou por ultimo a construção de nova casa para a família que, até então, morava sem qualquer conforto em casa de taipa.

Uma nova era abria-se para o Brasil, já retratada em filmes como "Gaijin" e novelas como "Terra Nostra", respectivamente sobre imigração japonesa e italiana. Enganam-se os que acham que estes imigrantes eram explorados. Até hoje guardamos os "contratos de imigração", onde os imigrantes, genericamente chamados de "colonos", vinham para o Brasil com destino certo, e condições contratuais já pactuadas, e que eram seguidas à risca por ambas as partes. As vilas onde moravam, chamadas de "colônias", eram normalmente distribuídas por etnias, de forma que havia "colônias" de espanhóis, italianos, poloneses e lituanos e, em minoria, japoneses. Na fazenda Água Milagrosa trabalharam muitas famílias de sobrenomes conhecidos que começaram suas vidas como parceiros de café; e através desse sistema adquiriram condições financeiras para estabelecer seus próprios negócios. Com o ingresso do café na região vieram os imigrantes, depois os migrantes nordestinos, as estradas, luz elétrica e, sobretudo, a riqueza. Dr. Arthur investiu no plantio de café, chegando a fazenda Água Milagrosa a ter mais de 1.000.000 de pés.

Mas, sendo um adepto ardoroso do meio ambiente, talvez por vir de um país como a Dinamarca, onde já não existiam florestas, manteve grande área de matas nativas, rigorosamente preservadas até hoje, e onde a fauna e a flora são riquíssimas. D. Izabel e Dr. Arthur investiram sobretudo na educação dos filhos, que, já alfabetizados, mas ainda crianças, foram para um colégio interno em Araraquara. Formaram-se em engenharia, tal como o pai, e posteriormente fizeram curso de pós graduação nos Estados Unidos, onde Alberto Ortenblad, aos 24 anos já era MA (Master in Arts) na Universidade de Harvard, e aos 26 anos, Sc.D. (Science Doctor, equivalente a Ph.D.) pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). A tradição foi mantida, e os dois filhos de Alberto Ortenblad, Alberto Filho e Carlos Arthur, também cursaram a Universidade de Harvard, e a filha Maria Elisa, foi aprovada na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Mas, voltando à primeira geração da família, com os filhos formados e pós graduados, e ambos, Alberto e Rodolpho, já iniciando suas carreiras profissionais, a vida de Arthur e Izabel Ortenblad parecia não correr mais riscos. Até que, na sequência do "crack" da Bolsa de Nova Iorque, em 1.929, veio a Grande Depressão que também atingiu o Brasil, e de maneira violenta. Os preços do café desabaram, não havia sequer interesse em colhê-lo. O governo federal queimava seus estoques, na vã tentativa de fazer os preços internacionais subirem, obtendo apenas, com este sacrifício, amparar países que hoje são nossos concorrentes na produção de café. Dr. Arthur e D. Izabel, já com idade avançada, ficaram tão sem dinheiro de repente, que colocaram seu Ford "Bigode" (modelo T, ano 29 - ainda existente e preservado) em cavalete, por absoluta falta de dinheiro para comprar gasolina, só conseguindo recuperar-se financeiramente três anos depois.

Dr. Charles Arthur Edwin Ortenblad faleceu em 1.938, e foi sucedido na administração da Fazenda Água Milagrosa por sua viúva, D. Izabel, mulher dotada de incrível capacidade de trabalho, coragem e alegria de viver. Em 1.950, D. Izabel faleceu em desastre de avião em Ribeirão Preto. A fazenda Água Milagrosa e a outra fazenda da família, no município de Uchôa (Santa Cecília), foram herdadas pelos irmãos Alberto e Rodolpho que, poucos anos depois, resolveram separar-se, ficando Alberto com a Fazenda Água Milagrosa (Tabapuã, SP) e Rodolpho com a fazenda Santa Cecília (Uchôa, SP). Ambas as fazendas permanecem na família, passando já da terceira para a quarta geração. Uma curiosidade: O nome Água Milagrosa vem do século passado. Na região onde se situa a fazenda, havia um poço, provavelmente de água sulfurosa, onde as pessoas se banhavam para tratamento de reumatismo, com bons resultados. Daí o nome. A Fazenda Água Milagrosa foi vendida, em março de 2005, ao empresário Fábio Zucchi Rodas, que ao assumir o comando da fazenda, assume também o compromisso de preservar as tradições da fazenda, como a geração de emprego e do bem estar social; com o respeito ao meio ambiente; com o respeito à função social da terra; com o respeito a contratos e parcerias; e, não menos importante, que preservasse a obra maior de da família Ortenblad: a raça Tabapuã".

Fonte: www.aguamilagrosa.com.br/

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Ano

1900*

Visitação

Não

Hospedagem

Não

Eventos

Não

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