Fazenda Bananeiras

Resumo Histórico

FAZENDA BANANEIRAS

Natividade - RJ #fazenda

1800*

Segundo a tradição oral, a Fazenda Bananeiras pertencia aos pais de D. Maria Sabina, portugueses que se transferiram para o Rio de Janeiro, onde teriam conseguido junto à Corte um título de propriedade para exploração de terras ao longo do Rio Carangola. A demarcação destas terras teria sido feita com mudas de bananeiras, plantadas de forma agrupada em seus limites, fato este que rendeu à propriedade o sugestivo nome de “Fazenda Bananeiras”, totalizando uma área de dois mil alqueires de terras. Os antigos contavam ainda que os pais de D. Maria Sabina fizeram amizade com os índios puris, que habitavam a região. Essa amizade foi tão sólida que, tendo o casal dificuldades para engravidar, foram encontrar na crendice e na medicina indígena ajuda para a solução de seus problemas, através de rituais e da ingestão de misturas popularmente conhecidas como “garrafadas”. Por coincidência ou não, o casal teve logo depois a sua única filha, à qual deram o nome de Maria Sabina. Maria Sabina (f56) nasceu em 1834, na Fazenda Bananeiras, e frequentava a aldeia dos índios que ficava na outra margem do rio. Casou-se aos quatorze anos com seu tio, Joaquim Custódio Fernandes (f57), muitos anos mais velho que ela. Esse hábito de esposar parentes era adotado em muitas famílias da época, sobretudo com a finalidade de fazer com que as grandes fortunas permanecessem na família. Contavam os parentes que, por força do hábito, Maria Sabina, após o casamento, continuou se dirigindo ao marido como “tio Joaquim”.

Dessa união nasceram treze filhos: Juca, Joaquim (Quinquim), Pedro, Rodolpho, Antônio (Nico), Paulo, Otávio (Viú), Clotilde, Agatheodora (Gadola), Sarah, Joaquina (Quinha), Maria Francisca (Margarida) e Argeu (Tigeu). Joaquim Fernandes – que foi juiz de direito e vereador da primeira câmara do município de São José do Avaí, atual Itaperuna, em 1889 – e sua esposa introduziram e desenvolveram a cultura do café na propriedade, junto com a exploração de madeira da Mata Atlântica. A quantidade de café produzido na Fazenda Bananeiras foi tão grande que se fez necessária a construção de uma estação ferroviária em suas terras a fim de conseguir escoar a produção local. Essa estação recebeu o nome de Bananeiras, em torno da qual se formou um pequeno vilarejo. Maria Sabina faleceu em 1917, aos oitenta e três anos, mas, antes disso, a Fazenda Bananeiras já era administrada por um de seus filhos, Antônio Custódio Fernandes dos Santos, o Nico (f58), mais conhecido pelos demais habitantes da região como “Padrinho Nico” ou “Nico da Bananeiras”. Na fazenda, Nico possuía autoridade total, e em virtude da distância da sede municipal, e também do legado do sistema patriarcal, o proprietário acabava administrando e orientando a vida de todos os agregados, chegando a substituir desde o médico ao juiz de paz.

Assim fez até sua morte em 1935. De acordo com os registros familiares, “Padrinho Nico” foi o melhor administrador que a fazenda já teve, sendo seu maior feito ter mantido a propriedade com os mesmos 2000 alqueires do tempo dos seus avós. Foi sob sua gestão que a propriedade se tornou autossustentável, comprando de fora apenas o sal. A fazenda mantinha em funcionamento serraria, engenho de açúcar, máquinas para beneficiar café e arroz, alambique, moinho de fubá, instalações para a produção de farinha de mandioca, matadouro, além de sistema próprio para o fornecimento de luz elétrica e um time de futebol. Até mesmo os caixões necessários para os sepultamentos ocorridos na região por ocasião da gripe espanhola foram produzidos na estância. Todas essas atividades eram movidas à energia hidráulica, proveniente de uma barragem que, segundo consta, teria sido construída pelos escravos em 1845, com pedras retiradas do Rio Carangola (f59). A esse respeito referiu-se Alberto Lamego Filho (1196:128): “Bananeiras é uma visão retrospectiva e palpável dos nossos velhos clãs patriarcais. Tudo se ali molda a costumes de tempos decorridos. A fazenda basta-se a si mesma. Como nos primeiros latifúndios, quase poder-se-ia dizer que “só compra o sal, a pólvora, o chumbo, o ferro e os tecidos finos”. Em época de férias, colegiais dos internatos do Rio e de Petrópolis (f60) chegavam à fazenda, e muitas festas eram realizadas, como a de São João, descrita por Lamego (1996).

Ainda segundo os registros familiares, Maria Francisca, uma das filhas de Maria Sabina e Joaquim, casou-se, teve três filhos e enviuvou muito cedo, retornando à Bananeiras para vender a parte que lhe cabia na herança. Após a venda dos 300 alqueires, mudou-se para o Rio de Janeiro adquirindo inúmeros imóveis em Copacabana e Botafogo, permanecendo, porém, com uma parte da fazenda, inclusive a sede. Segundo consta, era uma mulher muito à frente do seu tempo: frequentava praia, usava maiô, participava de bailes e era muito namoradeira. Após um episódio curioso ocorrido num baile com um rapaz com quem dançava, que disse ser Francisca um nome feio, ela trocou seu nome para Margarida e, com o tempo, toda a família passou a tratá-la carinhosamente como Margô. Outra filha do casal Fernandes, Agatheodora Fernandes (Gadola), casou-se com Mário Teixeira Bastos, farmacêutico de Itaperuna. Gadola e Mário tiveram cinco filhos: Maria Eunice (que despertou paixões no renomado historiador e geólogo fluminense, Alberto Lamego), Lygia, Petrônio (morto ao nascer), Sarah e Venícius. Em 1984, a Fazenda Bananeiras, que ocupa atualmente 26 alqueires de terras, foi adquirida por Bruno Bastos Lima Rocha, filho de Sarah Fernandes Bastos e Heitor Lima Rocha, que empreendeu durante oito anos obras de manutenção e de restauração, a fim de aproximar o imóvel o máximo possível da estrutura existente no século XIX. Bruno casou-se com Noemi Laclau D’Albuquerque Câmara Lima Rocha, conhecida por sua extrema sensibilidade e valorização do passado, e a quem se atribui o fato de se ter resgatado o “espírito da Bananeiras”, que é a hospitalidade e o aconchego, tão bem traduzidos por Alberto Ribeiro Lamego, e tão presentes em tempos em que a fidalguia fluminense imperava nos salões de nossos solares.

O telhado de duas águas é arrematado por beiral decorado com mãos francesas simples. O forro de toda a construção é de madeira, com acabamento em pintura nas cores branco e azul colonial – nas duas salas principais, os forros são arrematados com sancas de madeira e de gesso. Todos os cômodos possuem assoalho de madeira, do tipo paralelo, com exceção da sala principal que é do tipo encabeirado, e de uma pequena saleta que é revestida com ladrilho hidráulico. Logo em seguida, vem a outra parte da construção, de porão alto, edificada dessa forma a fim de evitar alagamentos provocados pelas cheias do Rio Carangola. Esse bloco apresenta cobertura em duas águas, com telhas do tipo capa e canal. Internamente, o telhado foi transformado em sótão, que acabou sendo transformado em uma espécie de reserva técnica da casa, onde ficam depositados móveis, antiguidades e material de uso decorativo, transportados através de um alçapão instalado no forro, ao final do corredor. As pequenas janelas instaladas no sótão permitem uma vista exuberante da propriedade, e o acesso a ele é realizado por uma escada de madeira, do tipo caracol de mastro. A casa-sede possui lustres das décadas de 1920/30 que foram instalados nas salas durante as diversas obras de reforma realizadas nos últimos anos, além de uma infinidade de antiguidades acumuladas pela família ou adquiridas pelos atuais proprietários, diferenciando a Fazenda Bananeiras de outras propriedades do município.

Dentre essas antiguidades, destacam-se uma cama e uma cômoda confeccionadas por escravos com madeira extraída da própria fazenda; uma imagem de São Joaquim, provavelmente do século XIX; o velho piano; um par de consolos em estilo Beranger, com entalhes altos, tampo de mármore ondulado, pernas entalhadas em “CC” opostos; uma bacia; um gomil de prata e um relógio de pêndulo, transportado para a fazenda em lombo de burro, antes da inauguração da estrada de ferro, que só aconteceu em 1886. No corpo principal da casa, próximo à sala de jantar, existe uma saleta, antigamente denominada como “talha”, pois era o local onde ficavam depositadas as grandes talhas de cerâmica, ainda preservadas, com a água de beber. Os ladrilhos utilizados nesse cômodo da casa foram adquiridos da Fazenda Travessão quando de sua demolição. 

No outro extremo da sala de jantar, há uma pequena escada de madeira com guarda-corpo vazado que estabelece a ligação com a parte mais alta da construção, e cujo estilo, segundo a proprietária, foi inspirado em uma casa histórica de Minas Gerais. Em outro bloco está situada a grande cozinha – com seu fogão a lenha de estrutura original, primitivas geladeiras de madeira movidas à eletricidade –, além de quatro cômodos. Destacam-se o grande pilão com três almofarizes com tampa e o antigo caixotão utilizado para armazenar lenha, ambos da época em que a fazenda foi construída. Na área externa de uso doméstico, há duas varandas cobertas: a primeira, próxima à cozinha, apresenta tanque para lavar louças, banheiro para os empregados e forno a carvão; na segunda, há um grande tanque utilizado para a lavagem de roupas e uma casa de banho que, além de servir para higiene pessoal, é um dos pontos mais pitorescos da casa, pois é servida com água proveniente da barragem, transportada através de uma banqueta. A capela foi construída recentemente num pequeno bosque, ao lado da antiga estrada e próxima à fachada principal da casa-sede. Possui uma porta encimada pela torre sineira central, ladeada por dois ricos vitrais franceses, adquiridos de antigas construções em estilo eclético. Em seu interior, há um único altar, central e introduzido na parede, além de mesa para celebração em mármore. Destacam-se nesse ambiente dois anjos de corpo inteiro e os consolos de madeira em estilo barroco. Na área aos fundos da capela está instalado um cemitério para animais criado pela proprietária atual, que recolhe cães abandonados nas ruas das cidades próximas à fazenda.

Todo o conjunto formado pela casa-sede, capela e áreas externas contíguas à cozinha está em perfeito estado de conservação, devido às obras de manutenção e de restauração empreendidas durante a década de 1980, quando os atuais proprietários adquiriram a fazenda. Percebe-se que algumas intervenções foram realizadas introduzindo novos materiais, como é o caso dos esteios que originalmente eram de madeira e foram substituídos por pilares de concreto em função da dificuldade de serem encontradas peças de madeira nas mesmas dimensões das originais. Nesse mesmo período, foi realizada uma amarração estrutural com cabos de aço com o objetivo de conferir maior solidez e estabilidade à casa. É possível visualizar uma pintura parietal nas paredes internas da sala principal, executada anteriormente às sucessivas camadas de tinta que a casa recebeu ao longo dos anos. Trata-se de um barrado em estêncil, junto ao forro, que, além da função decorativa, visava expressar a riqueza e a posição social de seus proprietários. Fato este que lhes atribuía ainda mais distinção e poder na sociedade local. Muitas obras foram realizadas objetivando maior conforto na utilização dos ambientes originais da casa. Atendendo a essa demanda, foram construídos quatro novos banheiros, sendo um social e os outros três no interior dos quartos, que se transformaram em agradáveis suítes. Tais intervenções foram executadas de maneira a produzir a menor descaracterização possível: antigas janelas foram utilizadas como biombos e afixadas sobre o piso original de madeira, ocultando assim as instalações dos banheiros. A única exceção coube à área do box do chuveiro, que recebeu isolamento de alvenaria junto ao piso.

Fonte: InstitutoCidadeViva

Ano

1800*

Visitação

Não

Hospedagem

Não

Eventos

Não

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