Fazenda do Secretário
Resumo Histórico
FAZENDA DO SECRETÁRIO
Vassouras - RJ #fazendaantiga14
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1743
Esta aqui uma das mais belas casas rurais do Brasil, um local rico em história e que até os dias atuais brilha aos olhos dos visitantes que pisam por lá.
Ela é o melhor exemplo de solar rural cafeeiro em estilo neoclássico existente no Brasil. A propriedade chegou a possuir 500 mil pés de café e 366 escravos. Restaurada e mobiliada ao estilo da época, o solar foi construído em meados do século XIX (1830) por Laureano Correa e Castro, o Barão de Campo Belo. O título de Barão lhe foi agraciado em 1854 pelo Imperador Dom Pedro II. A Fazenda Secretário possui vários aposentos, uma escadaria importada da Europa em madeira de lei, salão de baile, escritórios, biblioteca, sala de jantar e banquete, capela e pinturas do catalão José Maria Villaronga, conhecido por suas obras em estilo “trompe d’oeil”, uma das características da decoração interna das fazendas do Vale do Paraíba. ⠀⠀
Demarcando a entrada para o “quintal” do casarão há um portão de ferro entre colunas encimadas por pinhas de louça. Este pátio mais próximo ao acesso distribui, entre canteiros, os caminhos para a sacristia da capela e para a escadaria em pedra do bloco de serviços. A ponte arqueada, com estrutura e guarda – corpo de ferro e piso em madeira, é um verdadeiro ornamento romântico que se integra ao jardim. Ultrapassando-a, chega-se à magnífica cachoeira, com quase dez metros de queda d´água. Observa-se que a implantação do solar foi estrategicamente projetada para ficar sobre as rochas, bem junto ao despenhadeiro, com o vale se revelando na bela paisagem. O caminho que leva à entrada principal, se estreita quando passa junto a lateral esquerda da casa, onde está localizada a capela. A escada à direita leva para o antigo terreiro de café, com piso em pedra lavrada, localizado em frente ao depósito (antiga tulha). Oposta à escada, uma passagem leva para a calçada em cantaria, que contorna a casa apalacetada em direção a porta principal. Um caminho gramado contíguo ao exuberante jardim principal – separado deste por uma mureta com soco de pedra e paredes em cobogós de cerâmica que recebe sebes e roseiras – leva ao pavilhão com a torre sineira. ⠀
O solar da Fazenda do Secretário, com sua beleza imponente, configura-se em referência histórica e arquitetônica no panorama das fazendas do Médio Vale do Paraíba, pela horizontalidade, ritmo constante e simetria das esquadrias. A sua monumentalidade é acentuada pela qualidade paisagística dos amplos jardins e parques que a cercam e pela extensão de sua fachada principal. A horizontalidade de seu corpo frontal é, ainda, ressaltada em suas extremidades pela presença de frontões triangulares embasados por cornijas denticuladas e com faixas de díglifos – espécies de tríglifos imperfeitos inventados por Vignola –, que sobressaem abaixo do beiral pronunciado em balanço. Seus tímpanos são delimitados por frisos salientes de larguras diversas e dentículos e ornamentados ao centro por uma estrela inscrita em moldura circular em estuque, traduzindo glória e poder. A edificação, com dois pavimentos, comporta três tramos de composição. O central, composto por nove vãos em cada andar, é destacado no seu eixo, no térreo, pela presença da porta principal de entrada do solar, com sua verga em arco pleno. Todos os demais vãos de janelas possuem vergas e sobre-vergas retas. Nos tramos dos extremos há, por pavimento, dois vãos. No térreo havia uma porta interna e uma janela no extremo, arranjo que se perdeu no tramo à direita, onde a porta teve seu vão entaipado, tornando-se uma janela semelhante as demais. Todas as cercaduras são em madeira, bem como suas sobrevergas, mantendo as guilhotinas externas brancas em caixilhos de vidro, com desenhos geométricos diferenciados para cada pavimento, e folhas cegas no interior. As portas são almofadadas, com duas folhas, em madeira envernizada, apresentando a central, mais trabalhada e de maiores dimensões, aldrava antropomorfa, bandeira fixa em caixilho de vidro radial, cercaduras com ombreiras com bases em pedra ressaltadas e capitéis dóricos. Seu acesso é feito através de escada em pedra lavrada com 3 degraus, ladeada por dois mancebos em ferro fundido, que portam luminárias com mangas circulares. Frisos e pilastras simples delimitam os pavimentos e os tramos de composição, respectivamente. Os cunhais tem base em pedra lavrada e arremates em capitéis dóricos. Finaliza a composição, sublinhando os frontões e o telhado, uma cimalha em madeira, ricamente ornamentada com barrado decorativo.
“Cavalgávamos nossas bestas. A bela monotonia da paisagem acabara por me entregar inteiramente às meditações interiores. Todo o percurso era uma fazenda... Conjecturava eu assim, sem grande inquietação intima, porém com a secreta desesperança dos que perderam a pátria, quando o meu animal, picando a marcha, pareceu pressentir as Tulherias. Era uma fazenda. O Secretário tendes a vista esta soberba habitação... O sol e Victor Frond já a pintaram, com sua rica cascata... seus outeiros longínquos carregados de cafeeiros... que um homem, um único homem construiu em vinte anos de trabalho. O Barão de Campo Belo, eis em pessoa o seu primeiro Montmorency.” Essa é a narrativa de Charles Ribeyrolles, francês exilado no Brasil, ao se surpreender com a visita à distância da Fazenda do Secretário, vindo de Vassouras, em pleno apogeu cafeeiro, no ano de 1858. A lembrança das Tulherias, o palácio dos reis da França, veio da boa impressão que os jardins lhe causaram. Efetivamente, Secretário era a mais eloquente ilustração de fazenda do ciclo do café, em todos os sentidos: uma grande casa, um imenso cafezal, um respeitável barão. Sobressai a arquitetura neoclássica da moradia, influenciada pela introdução do estilo no Brasil, justamente quando a construção do palacete estava prestes a acontecer. Excepcional no acabamento, os dois frontões triangulares nas extremidades da fachada sugerem a sua divisão em três corpos. O da direita, o da capela1 . O da esquerda, abrigando a parte íntima da casa em cima e os serviços em baixo. E o do meio, nos dois pavimentos, os ricos salões ornados com pinturas decorativas ou com as paredes revestidas de papel. Fronteiro à casa, o grande relógio francês sobre a torre marca o passar do tempo até os dias de hoje... Secretário originou-se de uma sesmaria concedida, em 1743, a Pedro Saldanha e Albuquerque, logo transferida a Bartolomeu Machado Ferreira e Manuel Gomes Leal. Este último teria levantado a primeira casa de residência, ainda modesta e que daria lugar mais tarde ao palacete. Consta que o nome da fazenda se deve a um dos seus donos primitivos, que, por longo tempo, foi secretário do governador da capitania. Mas o grande senhor da Fazenda Secretário foi Laureano Correia e Castro2 , agraciado com o título nobiliárquico de barão do Campo Belo. Foi ele quem mandou edificar a bela casa e os primorosos jardins, monumentos que resistiram ao tempo. Foi Campo Belo que cobriu de cafezais os extensos campos da fazenda, famosa pela fertilidade da terra e produtividade da lavoura, realizações que fizeram de Secretário a mais importante de Vassouras durante o ciclo. O interior é descrito nos inventários com mobiliário com guarnição francesa estofada, espelhos altos com vistosa moldura dourada. Sobre o mármore das mesas e consoles assentavam jarras de fina porcelana e candelabros de bronze com mangas de cristal lavrado. Na sala de jantar, uma mesa com quarenta e oito lugares, quatro aparadores e um relógio-armário de corda à manivela. Três caixas de faqueiro de prata e duas caixas de um menor em prata dourada, cinquenta e seis pratos de prata lavrada, outros vinte e quatro lisos, quinze travessas, saladeiras, mocheiras, fruteiras, tudo em prata, davam o tom do principesco rol de utensílios da fazenda. Em Vassouras, vila criada em 1833 e elevada à categoria de cidade em 1857, Campo Belo se destacou como uma das figuras mais proeminentes. Ele e seus irmãos herdaram fortuna construída no ouro das Minas por seu pai, mas, ao invés de a dissiparem no gasto supérfluo da cidade, fizeram-na crescer na lavoura. Ao irmão Antônio, barão do Tinguá, caberia a honra de hospedar o imperador D. Pedro II na visita a Vassouras, em 1848. Laureano foi comandante da Guarda Nacional, da qual diria o historiador Inácio Raposo: “Nas longas filas dos batalhões da Guarda Nacional em grande uniforme e habitualmente comandado por Laureano Correia e Castro, cujo garbo militar impressionava a quantos tinham ensejo de vê-lo erguido sobre um corcel fogoso a dirigir tropas”. O barão de Campo Belo faleceu em Vassouras no ano de 1861. Sua viúva3 e o filho primogênito Cristóvão Correia e Castro o sucederiam na fazenda. A necessidade de aperfeiçoar as lavouras de café, de adquirir maquinário eficiente e de pagar dívidas contraídas na compra de outras fazendas levou os donos a hipotecar a Secretário ao Banco do Brasil. Cristóvão, homem de qualidades iguais às do pai, logrou saldar grande parte da dívida, mas antes que a quitasse, foi alcançado pela abolição da escravatura e o fim do ciclo do café. Vive-se aí a fase triste da história da fazenda. Em 1905, já morto Cristóvão4 , seu filho e herdeiro, Júlio Correia e Castro, consegue a renovação da hipoteca, mas, sem possibilidade de resgatá-la, perde a fazenda em 1908, transferida pelo credor a Georges Payen, em 1912. Desde então, Secretário pertenceria sucessivamente a Damphna Josephine Berthe Boogaests, Geraldo Rocha, Rural Colonização S/A e Mario Kroeff. “Kroeff, proprietário de 1952 a 1986, promoveu a divisão das terras pelos filhos, mantendo a casa, as benfeitorias e 15 alqueires geométricos de área...”.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Fonte: Festival vale do café/Instituto Cidade Viva
Contato
Ano
1743
Visitação
Sim
Hospedagem
Não
Eventos
Sim
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