Fazenda Salgada

Resumo Histórico

FAZENDA SALGADA

Itaperuna - RJ #fazenda

1840

Segundo o major Porphírio Henriques em sua obra A terra da promissão, por volta do ano de 1840, chegou a Nossa Senhora da Piedade da Laje, nome primitivo do atual município de Laje do Muriaé, vindo de São Paulo do Muriaé, atual município de Muriaé-MG, o Sr. Francisco Antônio de Cerqueira. Ao se casar com D. Umbelina Bastos Cerqueira – filha do alferes José Bastos Pinto, doador dos terrenos onde se formou a então Vila de Laje do Muriaé – foi fixar-se na Fazenda Salgada, que desbravou e cultivou. De acordo com o livro Fazendas históricas de Itaperuna, editado pelo Colégio Estadual Chequer Jorge, “esta fazenda foi construída por escravos, sendo a madeira extraída para a obra lavrada na própria região, chegando a constituir uma das mais suntuosas e progressistas fazendas da região.” O cel. Adelino Garcia Bastos adquiriu a Fazenda Salgada de seu pai, o cel. José da Silva Bastos – que foi chefe do Partido da Lavoura de Pádua e presidente do Clube Agrícola de Miracema – e de D. Ana Garcia Bastos, também proprietários da Fazenda do Tyrol, localizada na divisa de Miracema com Laje do Muriaé. Era muito conhecido por ter fundado, no início do século XX, um clube agrícola que editava e imprimia na própria fazenda a Revista da Lavoura e o Jornal O Agrario, que publicava artigos dos sócios e de pessoas interessadas nos problemas rurais, do comércio e da indústria, e defendia a difusão do ensino primário, a preservação e construção de estradas de rodagem, o trato dos problemas sociais, e de “amparar o fraco contra o forte, colaborar com os homens de boa vontade no surto da verdadeira e sã política, filha da razão e da moral, em suma agir dentro da lei e da ordem para que não se deturpem os sagrados princípios republicanos.” Foi na época do cel. Adelino que a fazenda mais prosperou (f62 e f63). O cel. Adelino, além de fazendeiro, era também comerciante e proprietário de uma exportadora de café no Rio de Janeiro, para onde era enviado todo o café produzido nas fazendas de Itaperuna e de Miracema. Em 1929, junto a outros fazendeiros e comerciantes, fundou a Associação Agrícola e Comercial do Município de Itaperuna. “A fazenda possuía 330 alqueires onde residiam cerca de 60 a 80 famílias, sendo que as mulheres eram selecionadeiras de café e os homens trabalhavam na lavoura”1 . Do Jornal O Agrario, nº 49, ano 20, de 20/11/1927, em artigo de autoria do Sr. Humberto Perlingeiro, extraímos informações sobre a introdução do café conilon. “... A respeito do assunto eu posso dizer com segurança precisa, pois a Fazenda Salgada, onde resido há oito anos, já cultiva largamente essa nova espécie de café e eu tenho acompanhado com muito interesse a maneira porque esse trabalho é feito e quais os resultados alcançados por essa lavoura, que com razões bastantes, é tida como reformadora dos nossos campos de ação agrícola.” Segundo o autor do artigo, seria uma injustiça falar do conilon sem associá-lo ao cel. José da Silva Bastos, considerado a potência máxima do norte do estado, não pela riqueza que acumulou, mas pelo desenvolvimento agrícola, pelo “seu trabalho perseverante e destemido das mutações porque passou e dos desequilíbrios que em longos anos passados, sofreu a lavoura cafeeira no mercado comercial...” E prossegue: “... Quando o cel. José Bastos viu que ao redor desta fazenda os velhos cafezais se desvestiam para a morte, não pensou ele em pasto não cogitou no gordura roxo nem no Jaraguá, não sonhou com o gado. Acordado por uma notícia sobre o conilon, espécie que entrou no intercâmbio agrícola sem que se precise claramente, como se dá com as demais espécies, a sua origem, o coronel José Bastos mandou longe e de lá lhe vieram, por preço de brilhantes trabalhados, uns poucos litros do conilon em cereja. Plantou-os com carinho e desse plantio surgiram alguns pés que cresceram sempre viçosos. Desses pés obteve novas sementes e novos plantios foi fazendo, seguindo seu filho, o cel. Adelino Bastos que lhe comprou há anos esta fazenda, a mesma orientada prática, estando se registrando aqui colheitas bem boas e que compensam em tudo o trabalho despendido no cultivo das lavouras.” Em 1929, a queda da bolsa de Nova Iorque provocou a queda do preço do café. Como consequência, houve no Brasil uma onda de falências e concordatas que afetou diretamente os fazendeiros de café e todos aqueles que indiretamente dependiam do seu cultivo. “No município de Itaperuna, que já ostentou o título de maior produtor de café do Brasil, a situação não foi diferente. Para driblar a crise, a solução foi investir na pecuária, tornando-se a Fazenda Salgada a maior produtora de leite da região. A fazenda, sob a administração do Sr. Rubens Garcia Bastos, filho do Sr. Adelino, tornou-se modelo na produção e melhoramento de gado leiteiro, para onde vinham estudantes de veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFFRJ, pesquisar e aplicar a inseminação artificial trazendo sêmen, inclusive de Porto Alegre/ RS. A ligação da fazenda com a produção leiteira pode ser vista pelo fato do Sr. Rubens Garcia Bastos ter sido o fundador da CAPIL (Cooperativa Agropecuária de Itaperuna), aglutinando produtores de toda região. Havia também a criação de suínos chegando a exportar três caminhões de porcos por mês para Cataguases, Muriaé e Miraí. Entre as benfeitorias presentes na época constavam engenho de açúcar, charqueada, máquina de café, máquina para beneficiamento de arroz e serraria”1 . Segundo o Sr. Oswaldo, morador da fazenda há cinquenta e seis anos, a Salgada era considerada uma vila e o movimento era grande, já que a estrada para Itaperuna passava em frente à casa-sede. “Aqui tinha cinema, banda de música, padaria, farmácia, telefone, cartório e agência dos Correios e Telegráfos.” Contou-nos ainda que, nos finais de semana, era um movimento só de gente entrando e saindo da venda. Relatou que muito concorridas eram as festas em louvor a São José, realizadas anualmente, em que aconteciam grandiosos bailes, jogos de futebol e missa rezada pelo padre de Laje do Muriaé, além das rodas de caxambu tocadas pelo Sr. Joaquim Moura, também morador da fazenda naquela época. Ainda segundo o Sr. Oswaldo, a capela, que tem o culto dedicado a São José, foi construída há mais ou menos cinquenta e quatro anos, obra da qual lembra-se, orgulhoso, de ter ajudado carregando pedras e tijolos. O livro editado pelo Colégio Estadual Chequer Jorge, que foi produto de um trabalho escolar realizado por alunos e professores, registra que “muitas personalidades pisaram naquelas terras, entre elas o Brigadeiro Eduardo Gomes (f64), Tenório Cavalcanti, Raul Travassos, Rubens Vieira Leite, Concentina Gargano Leite, Luis Monteiro de Barros, entre outros.” Em 1966, a fazenda foi vendida para Hamilton Abreu Leite, cabendo por herança a seu filho, Luís Fernando Padilha Leite. Nessa época, a produção dos seus 150 alqueires de terras era basicamente o gado de corte. Mais tarde, Luís Fernando realizou um trabalho de melhoramento genético do Guzerá para aptidão leiteira, tornando-se uma experiência inédita, uma vez que o Guzerá puro, cruzado entre si, tem sido comumente usado para corte. Outra característica dessa gestão foi a introdução da bubalinocultura (criação de búfalos) na região noroeste do estado, visando a produção leiteira, pois, apesar de rústico, se têm notícias de animais que chegaram a produzir 10 litros/ordenha. A fazenda, agora com aproximadamente 130 alqueires, foi vendida ao Dr. José Dario, que, por sua vez, a transferiu, através de compra, ao Sr. Antônio Oggioni Sobrinho, seu atual proprietário, que mantém a linha de produção com gado leiteiro e lavoura de feijão. Com muito entusiasmo e dentro de suas possibilidades, vem realizando obras de recuperação da casa-sede e procurando manter algumas das benfeitorias ainda existentes, como a serraria, casas para colonos e uma antiga construção que outrora serviu como armazém da fazenda e onde também funcionou o cinema. A obra mais importante recuperada pelo Sr. Antônio, entretanto, foi o resgate da hospitalidade dos antigos solares fluminenses. Bibliografia: 1 COLÉGIO ESTADUAL CHEQUER JORGE. Fazendas históricas de Itaperuna. Damadá Artes Gráficas e Editora Ltda., 2005. HENRIQUES, Porphirio. A terra da promissão. História de Itaperuna, obra póstuma. Rio de Janeiro: Editora Aurora, 1956. Jornal O Agrário, ano 20, nº 49, de 20/11/1927.

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Ano

1840

Visitação

Não

Hospedagem

Não

Eventos

Não

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