Fazenda São Lourenço
Resumo Histórico
FAZENDA SÃO LOURENÇO
Sumidouro - RJ #fazendaantiga414
1830
A Fazenda São Lourenço, localizada em Sumidouro RJ, às margens da BR-156, Km 5, é um testemunho vivo do Segundo Império do Brasil, durante o auge da produção cafeeira, época em que a Vila de Sumidouro desempenhou um papel fundamental. A narrativa oral conta que, ao ser fundada, a fazenda abrigava cerca de 100 escravizados. Essa FAZENDA DE CAFÉ tradicional, mantendo viva a tradição do plantio da fruta, preserva elementos históricos como seus terreiros, currais de pedra, roda d’água e vestígios de engenho de cana, café e milho.
Considerada uma verdadeira RELÍQUIA ARQUITETÔNICA, a sede da fazenda, construída por volta do século XIX, mantém a integridade de seu estilo arquitetônico, recentemente restaurado. Com seus diversos cômodos, a casa de design plano é não apenas linda, mas também bem planejada. O amplo GRAMADO e o PÁTIO à frente da sede oferecem uma atmosfera encantadora, com um extenso pátio gramado que se estende até uma cachoeira pitoresca, envolvendo o casarão com a beleza e o som das águas.
Além disso, a fazenda é cruzada por várias TRILHAS HISTÓRICAS, explorando riachos, cavernas, vistas panorâmicas e trechos de mata nativa, proporcionando uma experiência única aos visitantes. A preservação desses elementos ressalta não apenas a importância histórica da fazenda, mas também a beleza natural e cultural que a envolve.
Empreendi ligeira pesquisa sobre sua fundação e os habitantes que aqui residiam, a Fazenda de S. Lourenço, da qual brotou, do sumidouro do tempo, uma personagem fresca como mina de água, borbulhante de vida e desafios: Candida Maria Davel.
Os dados foram obtidos na Hemeretoca... Ribeirão fértil... Mergulhar fundo para encontrar muitas pedras de brilho... Porque afinal, como ensina uma das músicas mais cantadas aqui na fazenda em dias de festa: “Quando a gente ama, qualquer coisa serve para relembrar!”
Há fazendas de S. Lourenço em muitas regiões do país (Pará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo), no principal período do século XIX, a de S. Lourenço do Sumidouro tem sua história muito unida à Candida Maria Davel. Ela nasceu em Vassouras, em 1829. Era filha de Maria Brígida de São José Jordão e João de Souza Jordão – ele antes fazendeiro da Freguezia da Apparecida.
Candida casou-se com Ignácio Francisco Davel que a princípio figurava como fazendeiro sem engenho na Freguezia de Nossa Senhora da Conceição de Paquequer (Sumidouro).
Em 1861, Francisco Davel aparece proprietário de um “engenho de canna”, em seguida, de “engenho de pilões”, tornando-se também negociante sócio da Davel & Machado – em parceria com Antônio Hylario Machado que viria a ser seu genro e, posteriormente, testamenteiro, inventariante e “tutor de interdictos” de Candida Maria.
Candida teve 12 filhos ficando viúva por volta em 1865 ou no ano seguinte (com 36 ou 37 anos de idade).
Coube a ela tocar sozinha a partir daí as fazendas: a de S. Lourenço e a Bella-Vista. Mais tarde, as de S. Lourenço e a Vista Allegre. Seriam duas fazendas diferentes ou a mesma Vista que mudou de Bella para Allegre?
A partir de 1866 muitos foram os escravizados fugidos da Fazenda de S. Lourenço. O primeiro foi Luiz, evadido em 23 de novembro, com um “chapéo” de lebre novo, roupas de brim riscado fino, vinte e tantos mil réis em dinheiro e a vontade de lutar a Guerra do Paraguai. Desde então, muitos outros evadiram-se (ou tentaram): em 1869, José e João e, em seguida, Marcos, Leonardo e José Cobra; Em 1871, o mesmo José torna a fugir, agora em companhia de Basílio. Em 1874, José e Basílio outra vez tentam a liberdade. Sendo, portanto, esta a terceira tentativa do mesmo escravizado. Em 1877, Benedicto.
Candida figura como expositora de café, na Exposição de 1881. E em maio do mesmo ano, outra fuga: “o escravo Tobias, pardo claro e passa por branco, tem cabelo louro e olhos azues, barba corrida e pouca, falla bem e desembaraçado, tem falta da metade da orelha esquerda (a parte inferior), é de estatura regular e tem bons dentes”. Além da descrição curiosa, outro detalhe salta aos olhos: neste anúncio aparece que a Fazenda de S. Lourenço é pertencente ao Sr. Joaquim Pereira Torres.
De fato, de acordo com o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, o Alferes Joaquim Pereira Torres aparece como fazendeiro da S. Lourenço a partir de 1876. Embora, ainda na mesma publicação, a Fazenda figure relacionada ao nome de Candida até 1880.
A leitura dos jornais torna presentes fatos muito antigos. Areja eventos e hábitos, traz para próximo o distante, faz lembrar o que não conhecemos, dá à luz do sol o que estava imerso na penumbra do esquecimento e sopra em tudo o fôlego da vida, espanando a poeira do passado. Mas se a vida ainda nos reserva mistérios, as pesquisas se encerram e devolvem o que resgatamos ao seu fim:
“Depois de um sofrimento de cinquenta e tantos dias, acaba de sucumbir em sua fazenda da Vista Alegre, no dia 27 de junho findo (1882), victima de uma lesão do fígado, a Exma. Sra. D. Cândida Maria Davel.
Contava a finada 63 annos de idade e era dotada das mais excelentes qualidades e virtudes.
No estado de viuvez, tomou a si a direcção de suas fazendas, aumentando consideravelmente a sua fortuna, sem que por isso deixasse de praticar muitos actos de caridade.”
Foi uma mulher Cândida, mas resiliente e batalhadora. Sua história seria continuada por outras mulheres. Isso porque, ao morrer, dos 12 filhos que tivera, apenas 6 sobreviviam. Sendo os três homens, – nomeados em homenagem aos pais, Franscisco, Ignácio e Candido – dementes, conforme linguagem da época, por não “poderem se reger”. Coube às filhas continuar a história: Anna, casada com Luiz Bernardo Machado; Maria, casada com Thomas Pereira Madruga; e Porcina Augusta, esposa de Antônio Hilario Machado – a grafia deste último nome muda de acordo com o jornal ou a época.
Quatro anos depois, morreria Porcina Augusta, à 23 de janeiro de 1886. Deixava, aos 33 anos de idade, nove filhos aos cuidados do pai Antônio Hilário, a quem caberia também tocar a Fazenda de S. Lourenço.
Anos mais tarde a fazenda passou para as mãos da família Mendes, que por volta de 2010 passou para as mãos da Sra. Maria Cristina, que a reformou com muito carinho e por isso hoje podemos ver tudo preservado por aqui.
Mas agora, que adentramos em outra geração, deixo por hora a pesquisa por aqui, confiante de que muito há que se escavar. E seguro de que, como na S. Lourenço de Piracicaba que achou petróleo, não precisamos ir muito fundo para achar o que há de mais precioso por aqui. Afinal, as melhores histórias são as que estão por vir. E que vão arejar esse casarão da Fazenda de S. Lourenço, onde nós, atuais guardiões dessa fazenda, com muitas alegrias, risadas contagiantes e uma cantoria animada (nem sempre afinada) e com muitos refrãos cantados na hora errada em volta da fogueira do tempo que a tudo consome, mas que a todos aquece.
Fonte: Paulo Victor e Guto
Celular
Ano
Século XIX
Visitação
Sim
Hospedagem
Sim
Eventos
Sim
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